Por Elizeu Tomasi
A
começar pela manutenção – um tanto irônica – da expressão ultimatum em seus títulos, em uma explicita referência ao embargo
que Portugal sofrera pela Inglaterra em 1890 e que ferira profundamente o brio
português ainda saudoso das conquistas ultramarinas de séculos anteriores. As
duas obras em questão Ultimatum Futurista
às Gerações Portuguesas do século XX, do escritor português Almada
Negreiros, e poema Ultimatum, do
heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, são em sua totalidade um
manifesto explicito contra Portugal do início do século XX e que expressam a necessidade
de se (re)pensar a identidade portuguesa como uma nação em uma Europa que se
modernizava e pensava no futuro.
Com
uma intenção política além da literária, os textos de Almada Negreiros e Álvaro
de Campos tem um tom de discurso político. Percebemos que o narrador fala
diretamente ao público de forma imperialista gritando palavras de ordem, em
expressões como “Fora tu...” do poema
de Álvaro de Campos notamos de certa forma o grito de revolta do autor, que
assim como um manifestante toma as ruas e exige uma mudança de postura da
sociedade portuguesa.
A
humilhante perda dos territórios portugueses na África a favor dos ingleses fez
com que Fernando Pessoa e Almada Negreiros se manifestassem por meio da
literatura a fim de protestarem contra a decadência portuguesa no contexto
europeu e mundial. Nas obras lidas, fica evidente o tom argumentativo das
palavras tentando convencer o leitor/ouvinte de que o passado glorioso de Portugal
deve ser deixado de lado um pouco em busca da criação de uma pátria verdadeira
moderna e contextualizada com o então momento histórico-social. Nesse sentido,
afirma Almada Negreiros em Ultimatum
Futurista às Gerações Portuguesas do século XX “Porque o sentimento-síntese
do povo português é a saudade e a saudade é uma nostalgia mórbida dos
temperamentos esgotados e doentes”.
Os textos de Pessoa e de
Negreiros abordam claramente a questão política e social de Portugal e a certo
ponto dão um Ultimatum aos portugueses
da época anunciando a necessidade de mudanças e de se adequar ao novo mundo em
que viviam. A literatura e o escritor neste sentido tomam a linha de frente da
batalha divulgando os ideais de modernidade para este “novo mundo”. Assim,
coube à literatura e aos artistas modernistas traduzir aos portugueses do
século XX a nova realidade em que viviam e recuperando para isso o presente
português a identidade nacional.
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