sábado, 10 de dezembro de 2011

Nova Carta ao El-Rei Sobre o Achamento do Brasil

Senhor:
              Visto que atracamos em terras desconhecidas, por ser meu oficio, venho informar sobre a tal. A cerca da viagem, o Capitão-mor dessa vossa esquadra será mais digno de comunicar. Me encarrego aqui da descoberta, talvez a maior de todas as realizadas por Vossa Alteza.
              Quão formosa, meu senhor, são estas terras!  Avistamos das embarcações uma bela praia. O mar vai de encontro a um manto suave de areia branca e ao se tocarem, parecer amorosamente abraçar-se; a areia beija as ondas que retornam para o mar, mas com certeza de que um dia retornarão para esta mesma praia. Completando a perfeita aquarela que apreciamos, está o verde marcante de uma mata inexplicavelmente rica e vasta com árvores de todos os tamanhos e formas – uma infinita monocromia de verdes.
              Só notamos que não estávamos diante de uma pintura, porque ao nos aproximarmos da praia, nosso êxtase foi quebrado por uma sinfonia de aves com exuberantes plumagens multicoloridas. São diversas essas aves por aqui! Suas revoadas trazem ainda mais beleza à paisagem que causam grande fascínio aos nossos olhos e com certeza encheriam também aos olhos de Vossa Alteza. Pela perfeição do que vemos, temos a impressão de que chegamos ao verdadeiro Jardim do Éden!
              Ao atracarmos, o capitão envia uma pequena expedição de cinco homens para fazer o reconhecimento da terra. Acompanhamos da embarcação quando alguns homens surgem da mata. Diferentes de nós, aqueles homens parecem fazer parte do quadro que esta terra se aparenta. Parecem felizes, mesmo  sendo simples e parecendo ingênuos. Aproximam-se de nossos homens e logo vão os cumprimentando com forte aperto de mão e um caloroso abraço. Parecem amigáveis! Descemos e vamos ter com eles.
              Outros homens veem ao nosso encontro e entre eles algumas jovens. Como são encantadoras! O sorriso estampado no rosto bem desenhado parece acompanhar o requebrado que acompanha o cantar dos pássaros e o quebrar das ondas nas pedras da praia. Somos acomodados na sombra de uma palmeira e ao som de pássaros tenores - que mais tarde viemos saber que se chamavam sabiás – assistimos o bailar daquelas jovens que pareciam ter molas em vez de ossos a requebrar seu corpo num ritmo excitante, nunca antes visto por nós.
              Creio, meu senhor, que em nenhum outro lugar do mundo encontrarás um povo tão harmônico e homogêneo como este. Parece-me que o mundo todo está aqui! Quanto mais as mulatas requebram, mais gente chega brancos, pretos, mulatos, asiáticos, japoneses... Esse povo não tem cor definida, parece ter várias caras e um único pensamento: divertir e se divertir. Não sabemos ao certo onde estamos, mas chegamos numa espécie de paraíso, isso é fato!
              Sei que sou apenas um escrivão e não seu conselheiro real, mas Vossa Alteza, ouça o conselho que lhe dou: “ Isso aqui que é mundo! Pega a prenda e os guri e bora prá cá! Porque eu, daqui não saio! Daqui ninguém nem me tira! – E dele samba!”
              Espero Vossa Alteza!

Ex-escrivão da Armada

ELIZEU DOMINGOS TOMASI  Atividade  de Literatura Brasileira I
             

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