terça-feira, 13 de dezembro de 2011

BOCA DO INFERNO: A PUNIÇÃO PARA A LÍRA MALDIZENTE DE GREGÓRIO DE MATOS

                  É comum encontrarmos sentimentos pessimistas de brasileiros em relação à sociedade moderna em que vivemos. Desorganização, corrupção, violência, desigualdade, falta de valores e princípios acompanham a população brasileira desde a época da colônia.  Como viver em uma sociedade onde o individual (de alguns) se sobressai ao coletivo? Alguns se manterão alheios, mas outros procurarão se manifestar de alguma maneira. E foi esta última a opção escolhida por Gregório de Matos.

            Filho de mãe baiana e pai português, Gregório de Matos formou-se em direito em Coimbra e advogou na Bahia onde se tornou conhecido por sua vida desregrada, contrastando com sua fé no catolicismo. Como forma de “não comungar” com a desordem baiana do século XVII Gregório de Matos fez uso de afiadas sátiras em seus poemas por meio dos quais denunciou a corrupção, o abuso de poder e a ambição que dominavam a colônia e faziam do Brasil a terra da malandragem.
Gregório de Matos é um poeta que expressa exemplarmente o espírito contraditório do Barroco. Se por um lado, mostrou-se temente a Deus e a fé Católica e escreveu versos de louvor ao amor platônico; por outro lado, foi impiedoso e ferino ao condenar nominalmente as pessoas que viviam em busca de obter todo tipo de vantagem para si próprio. (COUTINHO, 1996)

            Com forte tom de revolta, o eu lírico dos poemas de Gregório de Matos usou da denúncia como maneira de viver bem na sociedade de seu tempo. Nesse sentido, afetou pessoas ilustres e de poder em Salvador do século XVII. Dessa maneira, com suas acusações pessoais e críticas impiedosas a certos comportamentos da sociedade barroca brasileira, o poeta barroco atraiu a ira e muitos conterrâneos, que incomodados com a língua afiada de Gregório o chamavam de Boca do Inferno. Segundo Ana Miranda (1994), “Gregório de Matos estava ali, no lado escuro do mundo, comendo a parte podre do banquete. Sobre o que poderia falar?”
            Podemos exemplificar a afirmação de Ana Miranda com vários poemas de Gregório de Matos. Vivenciando a realidade de desordem e corrupção da sociedade baiana, no soneto Quem cá quiser viver, seja um Gatão¹, Gregório tece críticas diretas a Chegai, Gaspar Soares, Pedro de Unhão e Gil que poderiam ser personalidades influentes da vida baiana da época. Ainda no mesmo poema encontramos: “Coma, beba, e mais furte, e tenha amiga²,”³ deixando nítida sua insatisfação com a ausência de lei e com a vida desregrada que a população baiana levava.
            Em fim, como ficar quieto, assistindo de camarote tanta injustiça, impunidade e desordem que ocorrem no cotidiano da sociedade?  E assim não é de se estranhar que os versos de Gregório de Matos “colocando a boca no trombone”, denunciando, e criticando a tudo e a todos, tornaram-se populares e dividiram a opinião. Como todo o sarcástico, Gregório, tornou-se amado por alguns e odiados por muitos ficando assim, conhecido pela alcunha de “Boca do inferno” ou “Boca de Brasa”.

ELIZEU DOMINGOS TOMASI -  LITERATURA BRASILEIRA I

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