A Carta de Caminha, antes de ser um texto documental ou literário, é a expressão pessoal de um homem sobre o novo e principalmente o exuberante. Ao se deparar com a chamada Terra de Vera Cruz e principalmente com os habitantes, tanto exóticos como selvagens (aos olhos portugueses); Caminha expressou nitidamente suas surpresas na carta, que assim como os Sermões de Anchieta fundamentaram a literatura e a cultura brasileira registrando os primeiros passos da colônia.
Pero Vaz de Caminha, o escrivão da armada de Cabral, escreve de maneira pessoal ao rei D. Manuel I com o objetivo de descrever o achamento da nova terra com a clara intenção de receber o perdão real ao seu genro Jorge Osório. Nessa empreitada, caminha se deixa levar muitas vezes pela impressão, sua emoções como também pelo oficio de escrever ao rei.
Observa-se nos registros do escrivão o choque que foi, aos olhos da civilização europeia, se deparar com uma população que vivia nua e principalmente sem aparentar vergonha disso ou por isso. Comprova-se isso por em diversas passagens da carta Caminha afirmar com tom de espanto que “andavam nus sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.” (CAMINHA, 1963) E nesse sentido, a perfeição e a ingenuidade das mulheres nativas também marcaram os olhos de Caminha que em diversos trechos descreve detalhadamente ao rei que são “ bem novinhas e gentis; e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonham.” (CAMINHA, 1963)
Outro ponto que causou estranhamento aos europeus foram os adornos, as pinturas e o porte físico dos corpos dos nativos, que aos seus olhos eram mais perfeitos que os corpos portugueses, mesmo não dispondo de uma alimentação vasta como a europeia: “seus corpos são tão limpos e tão gordos e tão formosos que não podem ser mais!” (CAMINHA, 1963) Este espanto pelos corpos nativos e principalmente pelas mulheres nativas, deixa claro o interesse de Caminha em fazer o rei perceber quão belo era o “achado” e quanto seria útil desprender interesse e pessoas para converter aqueles selvagens ao cristianismo e “humanizá-los”.
Fernandes Brandão descreve o Brasil, “O Brasil é mais rico e dá mais proveito à fazenda de sua Majestade que toda a Índia, porque não me haveis de negar que para as mais que dela vêm, virem carregadas das fazendas que trazem, se desentranha todo esse Oriente [...]” (?), da mesma forma Caminha já em sua carta ao Rei descrevia a nova terra recém avistada “ houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos” (CAMINHA, 1963).
Por isso tudo e muito mais, a Carta de Caminha é bem mais que uma simples carta ao rei, considerada a obra-prima das cartas-narrativas de viagem, a Carta do escrivão da armada, Pero Vaz de Caminha, dá inicio às manifestações literárias no Brasil Colônia, sendo de suma importância para o que mais tarde, com o Romantismo, viria a ser a Literatura Brasileira. Enfim, assim como Anchieta em seus sermões, Bento Teixeira em Prosopopéia; Caminha atesta não só a nova terra como o nascimento de uma nova cultura a qual hoje se tornaria tão, ou até mais, expressiva que a cultura da metrópole.
Elizeu Domingos Tomasi - Atividade Literatura Brasileira I
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