Por Elizeu Domingos Tomasi
O
desenvolvimento leitor é um caminho criado e percorrido de maneira individual,
respeitando o desenvolvimento pessoa do leitor e seu contato com o mundo dos
livros. Que profissional teria condições de separar a literatura por faixa
etária em literatura infantil, infantojuvenil ou adulta? Quem é capaz de dizer
que um adulto está preparado para ler um tipo “x” de literatura, enquanto um
adolescente deveria ler um tipo “y”? E
se o leitor adulto não se sentir preparado para ler “Dom Casmurro”? E se “Os Três
Porquinhos” já não satisfizer uma criança de sete anos? Estariam os
leitores presos a idade?
Coelho (2000) afirma que a
literatura infantil, assim como a literatura infantojuvenil, é apenas mais uma
“face” da literatura. Seria, segundo o autor, como se a literatura se
manifestasse de diferentes formas, a fim de atingir seu publico e seduzi-lo, o
que de forma alguma quer dizer que ela se destine única e exclusivamente a uma
faixa de idade. A literatura se manifesta de diferentes formas, mas se deixa
seduzir por qualquer leitor seja ele criança, adolescente, jovem, adulto ou
idoso. Assim o autor concorda com Ana Maria Machado (1999), que afirma que não
importa se é infantil, infantojuvenil, adulta, o que importa é a literatura em sim
própria.
A dita literatura infantojuvenil por não ter suas fronteiras definidas
vive uma espécie de “conflito de identidade”. Enquanto a literatura destinada
às crianças faz mais uso das imagens e figuras, e a literatura destinada a
jovens dedica-se a linguagem verbal. A infantojuvenil
percorre este vasto e complexo espaço entre infância e juventude. Responsável
pela inserção dos pré-adolescentes e adolescentes no mundo da leitura, a
literatura infantojuvenil tenta mesclar o texto verbal, com o visual a fim de
seduzir e chamar o leitor em formação para a literatura. E este “conflito de
identidade” se explica principalmente pelo fato do “público” dessa literatura
ser bastante escorregadio.
No entanto, não podemos nos prender
aos limites de idade para a definição de literatura infantojuvenil. Com a crise
leitora em que se encontra o Brasil hoje, vemos muitos adultos sem contato com
a literatura e está falta de familiaridade com os livros os colocam na
categoria de leitores em formação, fazendo com que estes livros mais atrativos,
com imagens, cores e formas sejam mais adequados. Desta forma o mais adequado é
definir a literatura infantojuvenil como o “convite
a literatura”, não para leitores desta ou daquela faixa etária, mais para
todos os leitores. A literatura infantojuvenil vem a ser assim, uma forma
apresentação da literatura em si, mais atraente e sedutora com a missão de
atrair leitores (seja qual foi sua idade) e ser porta de entrada destes ao
mundo mágico das histórias.
Nesse sentido, é preciso reconhecer
que os leitores não escolhem seus livros levando em consideração sua idade, mas
sim em virtude de vários outros fatores, como interesse, gênero, influencia da mídia,
de amigos e do professor e também levando em conta a própria apresentação
material disponível: capa, ilustração; a estética do livro em si. Assim, a
escola ou biblioteca podem fazer a classificação de livros, como a proposta
pela crítica literária, professora e ensaísta Nelly Novaes Coelho, mas jamais
devem levá-la a risca impedindo que o aluno-leitor leve um livro fora da
classificação apresentada.
Como exposto anteriormente, “o
desenvolvimento leitor de uma pessoa é um caminho criado e percorrido de
maneira individual, respeitando o desenvolvimento pessoal do leitor e seu
contato com o mundo dos livros”, assim cabe à escola e principalmente ao
professor apresentar uma variedade de opções de livros aos alunos, despertando
assim a curiosidade pela leitura além de sua idade. O aluno-leitor deve ter a
liberdade para chegar a uma estante e escolher o livro de maneira democrática
sem a imposição do professor/adulto, este, deve atuar como um mediador e não
como um detentor do que se pode ou não ler.
Enfim, bem mais que a idade do
aluno-leitor, é necessária levar em conta a sua experiência com a leitura. Se o
aluno-leitor tem nove anos e já sê acha na condição de ler um livro maior,
porque obrigá-lo a ler algo que não mais corresponde a sua necessidade e
expectativa? E da mesma forma, porque impedir alguém de ler algo menor se ele,
ainda não se vê capaz de ler outra coisa? Tais imposições fazem com que os
alunos-leitores se desmotivem em ler, principalmente na escola, pois acabam
sendo obrigados a ler algo que corresponde a sua realidade como leitores.
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