O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre
o homem que não sabe ler.
(Mark Twain)
O
desafio da escola atual ultrapassa os limites do simples incentivo à leitura.
Oferecer livros bons e de qualidade e garantir o acesso aos livros faz parte da
missão de toda instituição escolar. Esse fato se explica pela importância que a
leitura tem dentro do processo de ensino-aprendizagem. Se atentarmos para os
alunos que apresentam os maiores problemas de aprendizagem, vamos logo perceber
que tal falha decorre de uma dificuldade leitora.
Reconhecendo
a importância de se formar alunos leitores, é que as escolas desenvolverem
projetos internos que visam o incentivo à leitura, oferecendo livros e gêneros
textuais diversificados para serem lidos.
Acontece que muitas vezes tais projetos acabam engessados pelo próprio
currículo da escola e as ações de incentivo à leitura, restringem-se em
estipular uma aula de leitura semanal, onde os alunos são induzidos a ler um
material determinado pelo professor. Além de acabar tornando a leitura uma
obrigação, este procedimento acaba gerando uma leitura mecânica e
desinteressante e dessa forma o ato de ler perde seu sentido mais amplo que é o
de proporcionar prazer.
Dessa
forma, faz-se necessário (re) pensar os projetos de leitura p ara que além de
proporcionar o acesso e proximidade dos alunos aos livros e a leitura, que
visem, acima de tudo, incentivar a leitura livre e a autonomia dos alunos como
leitores. Deve-se ter em mente que cada aluno/leitor tem um perfil de leitura
bastante particular, o qual deve ser respeitado e desenvolvido dentro da
escola.
Assim,
um projeto de leitura eficaz deve dar ao aluno/leitor a oportunidade de
escolher seu livro e seu ritmo de leitura. A escola precisa se transformar em
seu todo, tornando-se um ambiente de leitura – uma grande biblioteca em todas
as suas dependências. As atividades propostas devem levar em consideração, o
fato de que a leitura em si só já é uma pratica e não deve ser encarada como um
meio de avaliação. Afinal, segundo os PCNs, “ler por si só já é um trabalho,
não é preciso que a cada texto lido se siga um conjunto de tarefas realizadas”,
e nesse sentido, as atividades de promoção de leitura devem ser desenvolvidas
de maneira lúdica despertando no aluno/leitor o prazer da leitura.
A ESCOLA E O DESINTERESSE PELA LEITURA
Vivemos
em um mundo dinâmico, que se modifica na velocidade da internet. Cada vez mais
cedo as crianças são expostas a informação escrita por meio da internet e TV.
Nestes veículos desde a tenra idade as crianças atuam como agentes ativos no
processo de construção da leitura. No entanto, mesmo oriundos de uma geração
imersa na leitura, percebemos um interesse cada vez menor pela leitura. Tal
falta de interesse reflete diretamente no rendimento escolar. Sem a fruição
leitora acentuam-se os problemas de aprendizagem e fracasso escolar tornar-se
quase que inevitável.
A
escola vem tentando a todo custo reverter esta falta de interesse dos alunos
pela leitura. Mas basta propormos um projeto, ou uma simples atividade, de
leitura aos nossos alunos para identificarmos o grau de resistência por parte
destes. Ao questioná-los então, sobre o ato de ler percebemos que a grande
maioria dos jovens e adolescentes não gosta de ler principalmente, no se tratando
da leitura oferecida na esfera escolar. Nesse contexto, a escola luta contra
uma aversão que ela mesma gerou nos alunos através da pratica de leitura por
obrigação, mecânica e muitas vezes sem sentido.
É
bastante frequente no contexto escolar, o professor apresentar uma lista de
livros escolhidos por ele mesmo ou então retirada dos manuais didáticos e
obrigá-los a ler um livro desta lista. Muitas vezes sem qualquer mediação do
professor e, principalmente sem respeitar o perfil e o gosto do aluno como
leitor, o professor acaba traumatizando o jovem leitor com uma leitura vazia
que não o leva a compreensão. Tal incompreensão ignora o fato de que a leitura
além de ser fonte de conhecimento, deve proporcionar prazer ao leitor.
Assim,
imerso em um mundo de leituras incompreensíveis onde lê simplesmente para ser
avaliado por meio de fichas, questionários ou resumos; o aluno acaba cada vez
se afastando mais dos livros, os quais passam a ser considerados como um
tortuoso castigo. A indagação então é como fazer para que os alunos, leitores
em formação, descubram o universo da leitura de forma prazerosa e sem o peso da
imposição ou o rigor da atribuição de notas?
O DESPERTAR DA LEITURA NA ESCOLA
A leitura deve ser considerada como uma prática cultural
básica que condiciona a integração escolar, social e profissional de todos os
integrantes da escola influenciando desse modo para o exercício da cidadania. Dessa
forma, faz-se necessário que a escola incentive o valor da leitura despertando
nos alunos o gosto pelo ato de ler.
Vale lembrar, que os próprios Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) já determinam que a escola precisa “organizar-se em torno de
uma política de formação leitora”. Esta organização deve ser pensada de forma
lúdica, para que desperte o interesse dos alunos de forma que estes venham
sentir a necessidade de ler.
Afinal, nada é melhor do que aprender brincando.
Vygotsky já postulava que o jogo e a brincadeira são eficazes para criar um
ambiente de aprendizagem de conhecimentos e valores. Vindo ao encontro da teoria de Vygotsky, a
professora e linguista Angela Kleiman (2002), afirma que para formarmos alunos
leitores precisamos primeiramente “seduzi-los com atividades atraentes” de
forma a cativá-los e a desafiá-los.
Assim, a leitura não deve ser encarada como uma pratica
isolada e silenciosa destinada a ambientes fechados e até certo ponto mórbidos.
A leitura é ação. A leitura é dinamicidade. A leitura é principalmente
colaboração. Afinal o próprio ato de ler já é colaborativo uma vez que o escritor
conta com a “colaboração” do leitor na construção do significado do texto.
CONCLUSÃO
É
preciso desfazer o mito de que a leitura só é possível dentro de um templo
sagrado, onde não se ri não se brinca não se fala. Um projeto de incentivo a
leitura e a literatura deve apresentar o seu objeto – o livro – de forma
atrativa e desafiadora para os leitores em formação. Os adolescentes precisam
ser mediados no caminho de leitura e o professor tem um papel fundamental nesse
percurso, não como alguém que prescreve livros, mas alguém que acompanha que conduz
que apoia o aluno até o ponto em que este possa seguir por si só o seu caminho.
A
leitura é uma importante porta para a autonomia de nossos alunos e por isso não
podemos deixar que a sua escolarização literária freasse o poder libertador da
leitura. A escola deve ser um polo de leitura e discussão, onde a leitura flua
livremente significando e sendo significada, para isso as aulas de literatura e
a escola como um todo, devem deixar de lado a visão redutora de leitura
centralizada na historiografia literária e na analise de obras.
A
literatura como projeto passa necessariamente pela fruição literária, o que só
acontece se os leitores desde pequenos sejam inseridos no mundo da leitura. As
crianças precisam ser expostas a leitura, manusear livros, ouvir histórias... Não
adianta incluir a literatura nos últimos três anos da educação básica (Ensino
Médio) e obrigar os vestibulandos a ler os livros canônicos da nossa literatura
se na infância eles não foram despertados para a leitura.
Enfim,
enquanto a literatura é banida do ensino fundamental, o momento mais propicio
para cativar os alunos a ler, no ensino médio a literatura é imposta de “goela
a baixo” de forma abstrata que acaba afastando cada vez mais os leitores. E
assim, para acabarmos com a crise da literatura é preciso que a escola se
organize para fazer com que a leitura não seja apenas um discurso, mas uma
realidade pulsante dentro da escola e que esta seja um biblioteca em sua
completude.
REFERÊNCIAS
Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos
parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília: MEC / SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf
Acessado em: 02/12/2013.
KLIIMAN, Angela. Oficina
de leitura: teoria e prática. 9ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.
RAMOS, Tânia Regina Oliveira. Literatura e Ensino I:9°período/Tânia Regina Oliveira Ramos, Gizelle
Kaminski Corso -
Florianópolis: UFSC/CCE/LLV, 2013.
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