sexta-feira, 12 de abril de 2013

DODECAEDRO: o poder da criatividade literária


Livro "Triângulo das Águas" - onde foi publicado a novela/noturno "Dodecaedro"
TEXTO escrito para a disciplina de Estudos Literários no Curso de Letras - Português UFSC
              
O poder criativo da mente humana é algo infinitamente inexplicável. Quando se fala então de arte, este inexplicável torna-se ainda mais evidente. Um bom exemplo dessa característica sem limites de nossa criatividade é o Dodecaedro, segundo o autor –Caio Fernando Abreu - um “noturno”, mas segundo a Teoria Literária uma novela. Afinal, onde está a dificuldade em classificar essa alegórica composição literária que compõe o livro “Triangulo das Águas”?

            A nossa capacidade de criar formas para expressar nossos sentimentos, emoções, pensamentos, ou impressões sobre o mundo jamais se limita a uma forma de arte, ou a um gênero de determinada expressão artística. Ao se expressar literariamente, ou seja, ao escrever sua impressão do mundo, o escritor não se permite limitar-se pelas características formais, estruturais ou temáticas de um ou outro gênero textual. O escritor simplesmente se deixa expressar de forma que suas ideias vão compondo sua produção livremente.

            Nesse sentido, é de se reconhecer que uma obra como a de Caio Fernando Abreu, em especial “Dodecaedro”, composta em um tenso contexto social – a ditadura militar do Brasil - dificilmente apresentaria uma uniformidade, por assim dizer – tipológica. O medo a angústia, a incerteza e a incompreensão de um período de opressão e resistência, fazem o escritor se expressar de diferentes formas mesmo quando se tratando de uma mesma obra.

Como afirma Alyne Rehm, de nada serve falar em repressão de forma simplesmente narrativa, sem tirar o leitor de sua zona de conforto. E em “Dodecaedro”, Caio Fernando Abreu soube perfeitamente “incomodar” o leitor hora falando em tom sentimental e lírico, hora escrevendo em tom de crônica, compondo uma novela com espaço único próprio de um conto perfeitamente possível de interpretação teatral.

Assim, Caio deu asas ao seu poder criativo desafiando os estudiosos da literatura com uma obra completamente hibrida, mostrando que a literatura não se prende aos gêneros, muito menos às regras. Se é um conto, uma novela, uma poesia em prosa, um texto teatral, ou noturno, o que importa é que o escritor nos presenteou com uma perfeita e brilhante alegoria do período de repressão no Brasil e seria um crime privar nossos jovens e adolescentes em fase escolar desse desafio que é desvendar o segredo por trás dos doze personagens que compõe o dodecaedro brasileiro de Caio Fernando Abreu.

Propor uma leitura dramatizada, ou até mesmo a encenação de “Dodecaedro” para os alunos seria um desafio e tanto. Além da atividade de dramatização, a obra permite um excelente trabalho interdisciplinar com a disciplina de história permitindo ao professor de língua portuguesa abordar as formas com que o Caio poeticamente estruturou a linguagem para falar o que sentia no momento em que não devia.

Caio Fernando Abreu

Dodecaedro







ABREU, Caio Fernando; Dodecaedro, disponível em https://ead.moodle.ufsc.br/mod/assignment/view.php?id=72476

HEHN, Alyne; Dodecaedro: repressão e resistência,  disponível em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31989/000784906.pdf?sequence=1



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