sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

MOVIMENTO CONTRA O BBB



ARTIGO ESCRITO  POR LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. 
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB  é a pura e suprema banalização do sexo.
Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros...todos na mesma casa ( a casa dos heróis?), como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB  é a realidade em busca do IBOPE.  

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB . Ele prometeu um zoológico humano divertido. Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas. 

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade. 

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados. 
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo dia. 

Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns). 

Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo. 

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o ?escolhido? receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão. 

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores) 

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema...., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , ·visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.

 
 Esta crônica está sendo divulgada pela internet a milhões de e-mails.




sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CASO BBB e LUIZA (que não está mais) NO CANADÁ

O BRASIL, OU MELHOR OS BRASILEIROS, ESTÃO MESMO UMA PIADA! QUALQUER BESTEIRA NA INTERNET OU NA  TV VIRA NOTÍCIA, VIRA FEBRE, VIRA HIT. ACHAMOS MPB UMA PORCARIA, (PORQUE É BRASILEIRA), MAS IRONICAMENTE  CURTIMOS O HIT "PINTINHO PIU". ENQUANTO O ENEM É ALVO DE TANTAS POLÊMICAS A JUVENTUDE DISCUTE "ESTUPRO NO BBB" E DÁ "FAMA" PARA GAROTA QUE ESTAVA NO CANADÁ, QUE NADA FEZ E NEM AO MENOS TINHA CONSCIÊNCIA DO QUE SE PASSAVA EM UM LONGÍNQUO PAÍS CHAMADO BRASIL.

SÁBIAS AS PALAVRAS DE CARLOS NASCIMENTO...  


VERDADEIRAMENTE SE FOI O TEMPO EM QUE OU SE TINHA TALENTO, OU SE CORRIA ATRÁS DOS 15 MINUTOS DE FAMA! HOJE SÓ PELO FATO DE EXISTIR JÁ SE É "FAMOSO".

ENFIM, LUIZA JÁ VOLTOU DO DO CANADÁ E NÓS BRASILEIROS, QUANDO VOLTAREMOS À REALIDADE?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

CULTISMO E CONCEPTISMO NO SERMÃO DA QUINTA DOMINGA DA QUARESMA DO PADRE ANTONIO VIEIRA

            Possuidores de uma perfeita retórica e de uma habilidade ímpar de trabalhar com a linguagem, os sermões do Padre Antônio Vieira ficaram famosos pelo seu poder de persuasão. Esta habilidade persuasiva deu a Viera atuação na área da diplomacia e também acarretou problemas com o Tribunal do Santo Ofício.
[...] dois anos e quase três meses esteve Vieira na Inquisição de Coimbra incomunicável num cubículo de quinze palmos por doze, sem receber luz senão através de um corredor. Móveis, eram apenas o cântaro d’água e as vasilhas para os despejos. Livros, nenhum, a não ser o breviário e, mais tarde, a Bíblia. Não se sabe se, em atenção à idade – perto dos sessenta anos – lhe facultaram o regalo de um leito, uma mesa e um banco para redigir sua defesa escrita. (LINS, p. 120)
            Seu grande prestígio como orador, porém acabou-lhe garantindo o perdão papal. De volta ao Brasil, preocupou-se em organizar seus sermões; dentre os quais encontramos No Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, ministrado no ano de 1654 na Igreja Maior da Cidade de São Luís no Maranhão, Vieira discorre sobre a relação antagônica entre a verdade e a mentira.
            Apresentando estrutura fortemente conceptista, Vieira inicia seu sermão expondo a idéia, ou moral que vai defender: “A verdade e a mentira: a verdade do pregador e a mentira dos ouvintes.” Em seguida, o orador recorre (por diversas vezes) às Escrituras para enraizar e dar veracidade ao seu discurso. A fim de efetivar a compreensão de seu auditório, composto de gente de todos os tipos, Vieira confirma as Escrituras e seu discurso por meio de diversas alegorias e exemplos que melhor materializem o que diz, ou como diz:
Mais sucede nesta passagem dos ouvidos à boca. Como os ouvidos são dois, e a boca uma, sucede que, entrando pelos ouvidos duas verdades, sai pela boca uma mentira. Parece coisa de trejeito, mas é tão certa, que a primeira mentira que disse no mundo foi desta casta: uma mentira feita de duas verdades. (VIEIRA, 1654)
            “No Maranhão até o sol e os céus mentem... No Maranhão não há verdade.” A um pregador é dado analisar a sua realidade, Vieira expressa na primeira afirmação a cultura de mentira que existia no Maranhão e na segunda afirmação sustenta a primeira por meio de um raciocínio lógico: se mentem não há verdade. O orador faz nessa passagem um jogo de ideias que sustenta sua argumentação.
            Segue ainda a estrutura conceptista de Vieira abusando de analogias e comparações afim de melhor representar e materializar o que prega como na passagem a seguir onde o pregador compara a presença do diabo nas nações com características de suas povos fazendo uma espécie de caricatura dos povos europeus:
 “Dizem que a cabeça do diabo caiu em Espanha, e que por isso somos furiosos, altivos, e com arrogância graves. Dizem que o peito caiu em Itália, & que daqui lhes veio serem fabricadores de máquinas, não se darem a entender, & trazerem o coração sempre coberto. Dizem que o ventre caiu em Alemanha, & que esta he a causa de serem inclinados à gula, & gastarem mais que os outros com a mesa & com a taça. Dizem que os pés caíram em França, & que daqui nasce serem pouco sossegados, apressados no andar, & amigos de bailes. Dizem que os braços com as mãos & unhas crescidas, um caiu na Holanda, outro em Argel, & que daí lhes veio – ou nos veio – o serem corsários. Esta he a substancia do apólogo, nem mal formado, nem mal repartido, porque, ainda que a aplicação dos vícios totalmente não seja verdadeira, tem com tudo a semelhança de verdade, que basta para dar sal à sátira. E, suposto que à Espanha lhe coube a cabeça, cuido eu que a parte dela que nos toca ao nosso Portugal he a língua, ao menos assim o entendem as nações estrangeiras que de mais perto nos tratam. Os vícios da língua são tantos, que fez Drexélio um abecedário inteiro, & muito copioso deles” (VIEIRA, 1654)        

Antonio Vieira segue no Sermão da Quinta Dominga da Quaresma essa estrutura conceptista que ele mesmo propusera no Sermão da Sexagésima onde critica o Cult ismo de certos pregadores, que em lugar de desenvolver uma argumentação consistente preocupam-se em enfeitar a linguagem tornando-a incompreensível.
Assim neste sermão, da Quinta Dominga da Quaresma, vemos uma engenhosa construção argumentativa rica em alegorias, comparações criando contrastes (verdade/mentira), simbologias originais (se mentem não há verdade) sempre os apresentando por meio de raciocínio claro e lógico que envolvia o publico seduzindo-o às conclusões que a ele e ao objetivo do sermão interessavam; características estas que fizeram de Antonio Vieira o mais importante e persuasivo representante do Barroco no gênero da oratória.

ELIZEU DOMINGOS TOMASI - Literatura Portugues