segunda-feira, 24 de outubro de 2011

As Cantigas de Roda e o Trovadorismo

--> -->
Estruturalmente nossas cantigas de roda carregam em seu DNA a essência da estrutura das cantigas trovadorescas portuguesas, mesmo estando temporalmente muito distantes. Assim como as cantigas trovadorescas, as de rodas fazem parte da cultura oral do povo sendo por isso simples e fáceis de decorar: “Atirei o páu no gato tô to/Mas o gato tô to/Não morreu reu reu/Dona Chica cá/Admirou-se se/Do berro, do berro que o gato deu/Miau !!!!!!. Estas cantigas nasceram orais e só depois foram catalogadas, reunidas em cancioneiros. O uso de um refrão e o paralelismo comum nas cantigas de amigo são presenças constantes nas cantigas de roda. Observamos isso perfeitamente em: “Nesta rua, nesta rua, tem um bosque/Que se chama, que se chama, Solidão/Dentro dele, dentro dele mora um anjo/Que roubou, que roubou meu coração //Se eu roubei, se eu roubei seu coração/É porque tu roubastes o meu também/Se eu roubei, se eu roubei teu coração/É porque eu te quero tanto bem”. Notamos como há repetição e que a cantiga se estrutura simplesmente por modificações de parte dos versos; o mesmo paralelismo das cantigas trovadorescas. Também na cantiga “Peixe Vivo”, como em outras, encontramos uma estrofe que é repetida durante a execução: “Como poderei viver/Como poderei viver/Sem a tua, sem a tua/Sem a tua companhia/Sem a tua, sem a tua/Sem a tua companhia”. Ainda em “Ciranda Cirandinha” vemos a voz feminina cantar a tristeza do amor que se acabou: “O Anel que tu me destes/Era vidro e se quebrou/O amor que tu me tinhas/Era pouco e se acabou” – outra forte característica das cantigas de amigo
Mas não são apenas as cantigas de amigo que estão presentes em nossas cantigas de roda. Temos fortes influências das cantigas de amor. Desde muito cedo, nossas crianças (principalmente as meninas) sonham com um amor cortês; um amor puro, no qual o amado se coloque inteiramente a sua disposição. E esse sonho é sustentado nas cantigas de roda como em “Terezinha de Jesus”, personagem que tem três importantes homens a seus pés: seu pai, seu irmão e seu amado: “O primeiro foi seu pai/O segundo seu irmão/O terceiro foi aquele/Que a Tereza deu a mão”. Outra característica das cantigas de amor presente nas cantigas de roda é o amor platônico. Em “Menina tão Galante” observamos a voz masculina sonhando para que a amada o convide para dançar “Oh! Menina tão galante que convida pra dançar/Vamos juntos neste instante dar a volta alegre estar/Oh! Que delícia saber dançar/ Oh! Que delícia do lindo mar”.
E o que dizer das sátiras nas cantigas de roda? Assim como as cantigas de escárnio, muitas cantigas de roda apresentam sutis ironias tão bem colocadas que muitas vezes passam desapercebidas. O que dizer da barata mentirosa que quer ser mais do que é, assim como muitas pessoas em nossa sociedade (A Barata diz que tem sete saias de filó/É mentira da barata, ela tem é uma só/Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só !)? Está ali, escondidinho na cantiga falada pela boca da criança uma crítica à uma atitude comum entre os adultos: mentir para se fazer!
Enfim, nossas cantigas de roda, comuns na cultura brasileira, têm muito de trovadorescas. A iniciar, pela melodia, rima e métrica que permitem que estas cantigas assim como as cantigas de amor, de amigo e de escárnio, sejam facilmente cantadas por qualquer pessoa independente da formação canônica. O grande exemplo disso, é o fato de que as cantigas de rodas fazem parte constante do repertorio das avós, que em sua simplicidade muito nos ensinam e divertem por intermédio das cantigas. 
 
Elizeu Domingos Tomasi - Atividade 1 de Literatura Portuguesa I – Outubro de 2011




Nenhum comentário:

Postar um comentário