ESCREVENDO O FUTURO
Ler, compreender, escrever. O
estudante capaz de dominar esses três
momentos está pronto para desenvolver
com sucesso sua vida. Essa é uma
das carências de nosso país, que carrega nas costas milhões de
analfabetos e outros tantos que, precariamente alfabetizados, lêem
mas não percebem os significados, não têm condição de usar o que
apreenderam mal. Chegaram à porta do conhecimento, mas não
alcançam abri-la para desfrutar as maravilhas do mundo do saber e da
comunicação.
Anísio Teixeira, educador perseguido por ditaduras, já dizia, em 1920,
da dificuldade que tinha o Brasil de caminhar na direção do futuro se
a educação não fosse prioridade nossa. Ao longo dos anos, muita
gente continua batalhando para transformar a realidade dos
brasileiros. Foi o que pude assistir, no último fim de semana, ao
participar da Olimpíada da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.
Durante meses, meninos e meninas de todos os cantos do Brasil, foram
chamados para participar desse desafio, dessa aventura. Escreveram
textos em suas escolas municipais e estaduais. Seus escritos foram
discutidos e selecionados regionalmente e, a seguir, nacionalmente.
Quatro são os temas abordados: reportagem, opinião, poesia e
memória. Coube-me participar da fase final da turma que escolheu a
memória.
Diante de mim, sozinho no palco, uma dezena de estudantes entre
onze e quinze anos, viraram do avesso a minha vida, meu trabalho,
minha infância, meu passado, meu presente e meu futuro. Esse é o
ponto máximo do projeto: eles se informam de várias maneiras sobre a
biografia do personagem a ser inquirido. Perguntam com uma precisão
que não encontro em muito repórter adulto profissional. E, mais
importante, ouvem com silêncio e atenção as respostas. Pois foram
orientados assim, pois só dessa maneira poderiam escrever sobre esse
simples escritor de canções. Finda a agradável entrevista, assistida
pelos 125 brasileirinhos que participavam do certame, minha tarefa
agora era esperar pelo dia seguinte quando, entre as duas
centenas de escritos, alguns seriam eleitos e lidos para a platéia e
para mim.
Sábado, no meio do dia, lá estou eu de novo, no palco. Pouco a pouco
são revelados os textos em que eles, essa maravilhosa e bonita
juventude do meu país, descrevem o que apreenderam das pesquisas,
das músicas, das letras e da entrevista. Em primeiro lugar: tudo escrito
com correção, clareza e sentimento. Ouvir aquelas palavras me
emocionaram muito, me arrepiaram. Fiz força para não chorar. Não tive
condição de lhes falar muito, era demais para meu coração. Só lhes
disse do meu orgulho: diante deles e do que vira e ouvira, cada vez
mais eu acredito no Brasil. Eles estão escrevendo o nosso futuro.
Publicado no jornal O Estado de Minas em 15/11/2010
Fernando Brant é escritor, letrista e um dos expoentes do Clube da Esquina, grupo composto por Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Toninho Horta, entre outros. Um dos principais parceiros de Milton Nascimento, compôs Travessia, Maria, Maria, Canção da América, Nos bailes da vida, Encontros e despedidas e outras.
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